A Apúlia |
APÚLIA
(S. Miguel)
Fica
situada numa extensa planície, na parte Sul do concelho, de cuja sede dista 6
quilómetros.
É
limitada ao Norte pelas freguesias de Fão e Fonte Boa; ao Sul pela
Estela, do concelho da Póvoa do Varzim; a Nascente por de Barqueiros, do
concelho de Barcelos, e a Poente pelo Oceano Atlântico.
A
freguesia é banhada pelos ribeiros da «Fonte Velha» e de «Mouriscos», que
na mesma nascem e pelo de «Pousados», que nasce em Laúndos, do concelho da Póvoa
de Varzim. Durante a época invernosa, a água destes ribeiros é aproveitada
para mover azenhas.
A
freguesia é atravessada pela estrada Viana-Porto e por outra que a liga a
Barcelos.
É
terra muito fértil, sobretudo de batatas, hortaliças, alhos, cebolas, feijão
e milho.
Por
sua vez a praia é abundante em peixe. Apesar de ser das maiores freguesias do
concelho, tem apenas quatro lugares habitados: Areia, Criaz, Igreja e Paredes.
Era uma reitoria da apresentação do arcebispo de Braga, mas no livro das
Visitações de 1683 já figura como priorado.
O
nome Apúlia foi-lhe dado pelos romanos, pelas semelhanças com a antiga Apúlia
italiana, o que nos demonstra ter sido fundada por eles.
Por
corrupção, muita gente das proximidades ainda hoje lhe chama Pulha ou Couto
da Pulha.
Segundo
informação do distinto jornalista Padre Cândido Lima das Eiras, actual prior
desta freguesia, parece que, dentro dos limites actuais da Apúlia – ao menos
em parte – houve outrora uma importante Villa romana, conhecida pelo
nome de Villa Menendiz (Villa de Mendo) que pertenceu ao Convento de Tibães.
Esta
povoação, existente nos princípios da Monarquia, foi completamente
“arrasada” e coberta pelas areias, não ficando dela quaisquer vestígios.
Escavações recentes puseram a descoberto algumas paredes que deveriam ter sido
de casas de habitações.
Segundo
a tradição, era daqui oriundo S. Félix que se venera na sua capela no alto
dum monte, sito em Laúndos.
Foi,
logo no princípio da nacionalidade, couto do Arcebispo de Braga, ao qual também
andava anexo o de Baçar, na freguesia de Barqueiros, concelho de Barcelos, que
fica a 3 quilómetros a Este.
O
couto da Apúlia era governado por um Juiz Ordinário, que simultaneamente era
também dos Órfãos e dois Vereadores, Procurador, Escrivão e Meirinho, de
eleição trienal do povo. A esta eleição vinha presidir o Ouvidor do Prelado.
No
lugar da Igreja, ainda se vê a casa onde funcionava a Câmara, o Tribunal e a
Cadeia. Esta era no rés do chão. Ao lado deste prédio vê-se outro, bastante
arruinado, que dizem ter servido de Paço ao Ouvidor do Arcebispo.
Defronte destas casas ficava o Pelourinho e, um pouco mais a Nascente, erguia-se
a forca.
Nas
Inquirições de D. Afonso II, 1220, a freguesia era designada «De
Sancto Michaelli de Pulia», - sublinhe-se o Michaelli a lembrar italianismo –
nas Terras de Faria.
Há
também quem afirme que entre esta freguesia e a de Fão existiu uma outra
chamada Paredes onde ficava, no lugar da Agra dos Mouros, a igreja
paroquial da mesma freguesia da Apúlia.
A
freguesia de Paredes foi extinta e a esta anexada.
A
primitiva Igreja Paroquial, porque ameaçasse ruína, foi, em 1696, substituída
por uma outra; e, no mesmo sítio, foi construída a actual, em 1945.
Na
Igreja há uma interessante custódia, estilo renascença.
No
dia 8 de Maio realiza-se aqui a importante festa de S. Miguel.
A
freguesia tem as seguintes capelas: S. Bento, no lugar de Criaz, fundada
em 1665; Nossa Senhora do Amparo, no mesmo sítio, do século XVIII,
bastante ampla e bem delineada; aqui, no 1.º Domingo de Setembro se faziam
exorcismos e rezas para afugentar do corpo de certos crentes o Diabo que
constantemente os importunava; a da Senhora da Caridade, no lugar da Igreja e
que data de 1881; a da Senhora da Boa Viagem, e que data de 1889; a da Senhora
da Guia, onde no último Domingo de Agosto se realiza concorrida romaria e a da Senhora
de Lourdes, todas no lugar da Areia.
Referem
alguns escritores que na Apúlia houve vestígios de uma antiga vala ou esteiro,
cuja construção atribuíam aos romanos e pela qual, segundo a tradição,
entrava o mar bem como barcos que transportavam o oiro das minas que, por aqui,
se dizia haver, até ao porto de Fão; e daqui passavam para navios de grande
calado, seguindo, assim, o seu destino.
Hoje,
ninguém acredita em tal versão. Há na verdade, por aqui minas, não de oiro,
como querem, mas sim de antimónio que, em tempos idos e ainda hoje tem certo
valor.
Além
destas minas há sinais de outras em várias freguesias dos concelhos vizinhos.
Corre no povo que em tempos passados a exploração do oiro se exerceu por
aqueles sítios. Os romanos para imporem esta região ao seu império,
coroavam as cristas dos montes e outeiros circunvizinhos com povos seus; e a Apúlia
devia ter sido a porta de comunicação daqueles com a sua pátria.
E
era natural que assim fosse, por esta freguesia ficar próximo da foz do Cávado,
não muito distante de Braga, sede dum convento jurídico, para que os
dominadores aproveitassem aquela via de comunicação marítima com a capital do
Império.
Existe
nesta freguesia uma lagoa com 900 metros de comprimento, de forma circular, e
cercada de juncos a que o povo chama oleiros. Na lagoa, havia, ainda há
poucos anos, um abundante canavial que fornecia os fogueteiros de toda a região
minhota.
Para
abastecer de água a população há apenas uma fonte pública, conhecida pelo
nome de Fonte de Nossa Senhora.
Acerca
desta fonte conta-se a seguinte lenda:
O
lavrador João António de Sá, desta freguesia comprara num leilão em Vila do
Conde, em 1770, a Maria Teresa de Aguiar (a Rebeca) a primitiva imagem de Nossa
Senhora do Amparo. Ao regressar com ela, descansou no areal, e pediu a Nossa
Senhora que lhe desse uma fonte para matar a sede quando fosse ao sargaço.
Cansado
adormecera. Ao acordar notou que, aos pés da imagem de Nossa Senhora, aparecera
uma fonte da qual brotava água muito cristalina.
Ao
chegar a casa, disse à mãe que era muito surda; «apegue-se com esta
Senhora que é de muitos milagres». No dia seguinte, de manhã a velhota
ouviu cantar os galos no poleiro.
Estes
milagres fizeram crescer a devoção do povo a tal ponto que, em breve, as
esmolas recebidas deram para a construção da capela da Senhora do Amparo.
O
Arcebispo D. Gaspar de Bragança, tomando conhecimento dos muitos milagres
operados, ordenou às autoridades eclesiásticas que tomassem conta da imagem,
iniciando-se logo (talvez em 1775) a construção da capela.
Até
há poucos anos atribuíam à água desta fonte, entre outras virtudes, a de beneficiar
os exorcismados que a bebessem.
A
Apúlia tem uma aprazível praia de banhos, muito conhecida na região nortenha.
Está situada num lugar alegre, sendo o mar devido ao pouco declive da praia,
muito sereno.
Esta
encantadora praia teve início numas pequenas e modestas casas que se construíram
para os banhistas que vinham de Barcelos e doutros pontos. Actualmente, devido
à grande concorrência de veraneantes, fizeram-se importantes edificações,
transformando-se a praia numa das mais frequentadas no Minho. Um pouco ao Norte
da praia de Cedovém, houve um facho que, de noite, se mantinha aceso e que os
seus moradores eram obrigados a guardar devidamente armados, por causa dos
piratas.
A
Apúlia tem duas colónias balneares, uma denominada «Sá Carneiro» e a outra
«Mocidade Portuguesa Feminina».
No
lugar de Criaz fica a Estação Radiogonio-métrica Aero-Naval dependente do
Ministério da Marinha.